Na contagem regressiva para as Paralímpiadas de Paris de 2024, Yeltsin Jacques comemora o desempenho de MS na temporada de competições de 2023. Após passar por um período de recuperação devido as lesões no pé e na posterior direita, o fundista conquistou duas medalhas no Mundial de Atletismo e uma medalha de ouro nos Jogos Parapan Americanos realizados no mês passado.
A superação da dificuldade por meio esporte
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Yeltsin Francisco Ortega Jacques tem 32 anos, é natural de Campo Grande e atualmente é considerado um dos principais paratletas do Brasil. Nasceu com baixa visão e ainda criança com incentivo da mãe e de alguns professores encontrou no esporte, uma maneira de quebrar barreiras e encarrar a realidade que estava a sua volta.
“Com dois anos (de idade) o Dr. Álvaro me diagnosticou com Amaurose Congênita de Leber (ACL) e minha mãe bem tranquila que como ela sempre foi, comprou uma bicicleta para mim, e eu com dois, três anos eu já andava de bicicleta. Com três anos, entrei para natação em Campo Grande e com cinco anos já fui nadar em Bonito. Sempre frequentei o ISMAC, o Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos e ali eu comecei. Com 12 anos fui lutar judô e treinar na Academia Moura e comecei a me destacar no judô. Com 13 anos fui disputar o Campeonato Brasileiro Aberto Adulto no Rio e fui crescendo e sempre gostando do judô”, lembra Yeltsin.
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Tudo parecia encaminhado para Yeltsin Jaques seguir dentro dos tatames, até que aos 16 anos o atletismo surgiu em sua vida de forma inusitada por meio de um amigo que precisa de um guia para correr. Yeltsin aceitou o desafio e dali em diante se apaixonou pelas pistas, correu bem sua dedicação lhe rendeu um convite para participar das Paralimpíadas Escolares.
“A gente não conhecia nada do esporte. Cheguei lá bati o recorde brasileiro dos 1000 (metros) e ganhei os 400 (metros), correndo de tênis. Voltei para Campo Grande, fui fazer um trabalho com o sensei Moura, ele olhou e me falou, pô você é bom no judô, mas você é o cara na corrida. Em 2008, comecei a meio que parar com o judô para ir nos treinos de atletismo com o professor Valdir, que foi um dos maiores descobridores de talentos aqui no Mato Grosso do Sul, e estava treinando no Grêmio Enersul e ali eu comecei a me destacar”, lembra Yeltsin.
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Confira o Papo Sem Retranca completo com Yeltsin Jacques:
As sábias palavras do sensei Moura estavam certas e a escolha pelo atletismo era a melhor opção para o jovem que demostrava ter potencial na modalidade e um futuro promissor pela frente. Afinal, foi correndo que Yeltsin se transformou em um paratleta renomado e nas Paralímpicos de Tóquio no Japão em 2021, viveu o ápice de sua carreira. Yeltsin Jacques escreveu para sempre o seu nome na história das Paralímpiadas, ao conquistar a 100ª medalha de ouro da história do Brasil na prova dos 1500m T11, estipulando também o novo recorde mundial com o tempo de 3m57s60. Um marco que foi que fechamento da participação do campo-grande que levou duas medalhas douradas de volta para casa. A primeira delas, foi na disputa dos 5000m T11, em uma data mais que especial, no exato dia do aniversário de 123 anos da Cidade Morena.
“A gente conquistou a primeira medalha do atletismo brasileiro em Tóquio, a primeira vez que o nosso hino tocou no Estádio Nacional de Tóquio, foi com a gente. Lá já era dia 27 de agosto e aqui era noite do dia 26, aniversário de Campo Grande e a gente pode dar esse presente de aniversário (a medalha de ouro). No dia 31, na final dos 1500m, a gente conquistou a centésima medalha de ouro da história do paratletismo brasileiro com recorde mundial. Então isso vai ficar marcado na história do esporte brasileiro” ressalta Yeltsin.
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No entanto, mesmo sendo uma referência para o paradesporto brasileiro, Yeltsin Jaques segue lutando, só que não mais para derrotar os aversários dentro dos tatames como na juventude, e sim, pela inclusão social. Mesmo com as novas regras regulamentadas pela Federação Internacional Atletismo estando vigor, o fundista admite que ainda é impedido de correr nas provas organizadas pela Federação de Atletismo de Mato Grosso do Sul (FAMS), que alega não ter uma categoria específica para sua categoria. “A pessoa com deficiência chegar a ser proibida de participar de uma corrida de igual para igual, só porque não enxerga eu acho que é cumulo. Eles (a federação) alegam que o guia me beneficia, inclusive é um problema que eu tenho tido. A gente achou que com a troca da federação mudaria isso, mas não mudou”, lamenta Yeltsin.
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Antos e Baixos na temporada
A temporada 2023 de Yeltsin Jaques e os atletas-guia Edelson Ávila e Guilherme Ademilson Santos naturalmente passou por oscilações. Logo no início do ano, o fundista do SESI MS, sofreu com algumas lesões que acabaram atrapalhando na preparação para o Campeonato Mundial de Atletismo Paralímpico 2023. Mesmo assim, o resultado no Mundial foi muito satisfatório e a equipe terminou a disputa com duas medalhas na classe T11, sendo um bronze nos 5.000m, com tempo de 15m12s37 e um ouro nos 1.500m com a marca 4min03s83.
No Parapanamericano de Santiago no Chile, correndo ao lado dos companheiros, Yeltsin chegou na marca de 15min13s10 quebrando o recorde da competição na prova dos 5000m e mais uma vez, o time MS assumiu o lugar alto do pódio. Porém, na prova dos 1500m, o fundista acabou desclassificado depois que um de seus atletas-guias passou mal durante a corrida.
“Podemos esperar marcas muito melhores acho que a gente viu isso em Santiago, terminei inteiro a prova, infelizmente o Edelson (Ávila) acabou quebrando. Deixei a cordinha bem aberta para ele correr e eu estava correndo por fora, então a tangencia da curva maior era minha. Nos últimos 1050 metros ele sentiu bastante e eu piquei a passada, porque se não a tira a biomecânica e acaba um atrapalhando o outro. Começou a cambalear, deu tipo uma hiperglicemia nele e depois disse para mim que não sentia mais o chão. Aí ele quase caiu e a guia foi para baixo e escapou da minha mão, e eu só passei a guia de lado, e na hora eu peguei na mão dele. A gente passou a linha de mão dada na chegada, e isso não pode, tem que ter contato (com o parceiro de prova) só pela guia” lamenta Yeltsin.
Para melhorar a performace em 2024, o fundista promete mudar a estratégia junto aos seus guias visando o melhor desempenho da equipe. Sem precisar disputar um torneio classificatório (um pré-paralímpico, por exemplo), devido ao Parapan já conceder uma vaga direta para os jogos, Yeltsin planeja uma preparação ainda mais intensa para buscar novas marcas expressivas e alcançar os dois ouros desejados no Jogos Paralímpicos. “Com certeza, foco 100% nos Jogos Paralímpicos. No meio de ciclo, a gente vai chegar um pouco pesado lá, mas essa é a ideia, em Kōbe no Japão de 17 a 26 maio temos o objetivo intermediário e o objetivo principal, é o ouro e o Bicampeonato nos 1500m e nos 5000m.”, afirma Yeltsin.
Antes de finalizar as atividades de 2023, Yeltsin Jacques ainda tem compromisso marcado com a Sunset Prosa e Segredo que acontece neste sábado (16) às 17h30 no Parque dos Poderes, em Campo Grande. “A gente continua participando de prova dos organizadores. Vamos estar na Corrida do Prosa e Segredo que é do Porto, um cara que sempre abraçou a gente independente de organização, ele quer que a gente esteja, corra a prova e se sinta bem. O Porto já liberou para a Janaína (esposa de Yeltsin) a vez que eu estava sem guia a correr e guiar de bicicleta’ e o pessoal gostou”, lembra Yeltsin.