A diretoria do Operário Futebol Clube deve decidir nos próximos dias sobre a participação no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino Séria A-3. Atual Tricampeão Invicto do Sul-Mato-Grossense, o Alvinegro ganhou o direito de disputar a competição nacional pelo terceiro ano consecutivo, mas, em caso de desistência, o vice-campeão Corumbaense é quem vai herdar a vaga para representar MS. No Papo Sem Retranca da última semana, o Presidente do Operário Nelson Antônio alegou falta de recursos para gerir o clube e por esse motivo vai priorizar o futebol masculino profissional durante a sua gestão.
O início do Projeto Futebol/Futsal Feminino no Operário
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A criação do projeto de futebol e futsal feminino do Operário Futebol Clube teve início no segundo semestre de 2021 e em pouco tempo, começou a render frutos se tornando uma referência no estado de Mato Grosso do Sul. A iniciativa surgiu por meio do empresário Edgar Nazareth que voltou a fazer parte da diretoria do clube do coração no começo daquele ano.
“Eu sou de família de operarianos e para se ter uma ideia, naquele campeonato de 77 eu estava lá, assisti a vitória do Operário, 1 a 0 gol de Tadeu Santos. Eu desde criança sou operariano. No passado eu participava mais como torcedor, estive em 2007 dando uma força, depois me afastei, voltei e quando essa nova gestão assumiu, eu acompanhei alguns anos e em 2021 eu cheguei para ajudar, aí trouxe o time feminino. E eu entrei nessa, pelo Operário, pela minha família. Meu pai estava com uma doença grave e ele é operariano e eu me senti na obrigação de tentar ajudar a conquistar um título pelo Operário. E acabou dando mais que certo e eu acho que contribui para a marca do Operário, para minha família e para os operarianos” lembra Edgar.
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Confira o Papo Sem Retranca com Edgar Nazareth:
Na primeira temporada no futsal feminino, o Operário trouxe a equipe da Funlec para as disputas da Copa Morena, Copa do Brasil, Jogos Abertos de Campo Grande e o Campeonato Estadual. No entanto, sem portar a filiação na Federação de Futsal de Mato Grosso do Sul (FFSMS) foi necessário firmar uma parceria para atuar nos certames.
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“O professor Val me falou ‘Edgar a gente (Funlec) tem a possibilidade de jogar a Copa do Brasil’ e a gente montou o time com as meninas que trabalhou com o professor Val. Quando foi começar, o Val me falou ‘o Operário não é filiado, então vai ter que jogar com outro nome’ e surgiu a possibilidade de jogar com o nome do Pezão e nós representamos bem o Operário. No primeiro ano, chegamos na semifinal da Copa do Brasil, que não fazia parte desse projeto, estávamos montando o time para ser forte no próximo ano”, lembra Edgar.
Em agosto, as operarianas fizeram “o primeiro teste de fogo” na Copa Morena de Futsal Feminino disputada em Antônio João e apesar da eliminação na primeira fase o time mostrou seu potencial. No mês seguinte, logo na estreia na Copa do Brasil contra a Associação Primaverense de Esporte, Cultura e Lazer (APEC) – MT, o plantel precisou entender o “espírito operariano de ser”. Jogando em sintonia com a torcida que lotou as dependências do Ginásio do Colégio ABC, a partida foi marcada pela superação das atletas que foram buscar o empate em 3 a 3, depois de perder o primeiro tempo por 3 a 0. Na volta em Cuiabá, uma vitória simples assegurou a classificação para próxima fase.
Nas quartas de final, um confronto sul-mato-grossense contra a Sociedade Esportiva e Recreativa Chapadão/Universidade Católica Dom Bosco (SERC/UCDB) foi repleto de reviravoltas dentro e fora das quatro linhas. No primeiro compromisso jogando no Ginásio Dom Bosco, a SERC/UCDB venceu por 2 a 0. No duelo de volta no Ginásio do Colégio ABC, o Pezão/Operário devolveu o resultado vencendo por 2 a 1 no tempo normal e levando o jogo para prorrogação.
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“O time delas (SERC/UCDB) era um time muito forte e tradicional e essas meninas (do Operário) foram supercampeãs na base com o professor Val. A gente precisava ganhar, saiu perdendo e virou para 2 a 1. Na prorrogação, faltando menos de 20 segundos, eles (SERC/UCDB) empataram e foi para os pênaltis. E nos pênaltis foi dramático e a gente acabou desclassificado. Quando foi no meio da semana, o pessoal começou a me ligar e falar, ‘oh vocês vão ganhar os pontos’, porque tinha uma atleta irregular, a Amanda Santana. No boletim do jogo anterior, quando acabou a rodada, saiu que ela teria que cumprir suspensão naquele jogo contra a gente, inclusive ela foi super decisiva e peça-chave no jogo e uma confusão, demorou dois meses para tocar esse campeonato”, lembra Edgar.
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O imbróglio envolvendo a atleta adversária, acabou gerando um problema de logística com a falta de ginásios disponíveis na Capital Morena. O Operário acabou realizando os dois jogos da semifinal da Copa do Brasil contra o Stein na casa do oponente, no Ginásio da Neva em Cascavel-PR. As meninas do Galo enfrentaram uma maratona pesada de jogos, realizando um total de quatro partidas em quatro dias, sendo uma delas no futebol de campo, somando ao todo, uma vitória, um empate, duas derrotas e levando para casa dois troféus nesse meio tempo.
Dentro dos gramados, o Operário se sagrou pela primeira vez em sua história, Campeão Sul-Mato-Grossense de Futebol Feminino. Na quadra, conquistou os Jogos Abertos de Campo Grande tanto feminino, como masculino em parceria com o Asas FC, além de levantar a taça do Campeonato Estadual de Futsal Feminino Adulto e garantir vaga para a Taça Brasil de 2022. “Foi o estadual mais difícil que tivemos, porque o Douradina que foi vice-campeão tinha a Mirella, a Paixão, a Jhow, a Carol, a Aninha, tanto que a SERC/UCDB naquele ano ficou em terceiro lugar, foi uma competição de alto nível”, lembra Edgar.
Surgimento do DEC/Operário
Com o desempenho acima das expectativas apresentado pelo departamento de futebol/futsal feminino do Operário, Edgar Nazareth acumulou mais uma função dentro do clube, a de diretor de futebol da equipe masculina, durante o Campeonato Sul-Mato-Grossense de 2022. Porém, para sequência ao projeto precisou se reinventar com o fim do acordo com a Escolinha do Pezão e enfrentando o “assedio dos concorrentes” que visavam as jogadoras de destaque do time. Ainda sem filiação na FFSMS e diante do desmanche no elenco que parecia evidente, o diretor precisou correr contra o tempo e agir nos bastidores para não perder as vagas conquistadas em 2021.
“A gente construiu muita coisa com o nome Pezão, que nunca foi falado tanto em Mato Grosso do Sul e no Brasil né? E lá atrás quando teve aquele imbróglio do problema jurídico, a gente precisava da assinatura do Pezão e a gente teve muita dificuldade. E eu entrei nessa, por causa do Operário e no final eu já ficava por causa das meninas. E as meninas super empolgadas, primeiro ano que elas foram campeãs, ia ter vaga na Copa do Brasil, na Taça Brasil, na A-3. E surgiu a oportunidade de conversar com o pessoal do DEC e firmamos uma parceria do campeão e do vice-campeão (Estadual) era um grupo fantástico”, lembra Edgar.
Reconstruído com a nomenclatura de Douradina Esporte Clube/Operário Futebol Clube (DEC/Operário) a temporada 2022, começou da mesma forma que a anterior, com o Galo levantando mais um troféu para galeria, ao vencer a Copa Integração de Futsal Feminino. Nas competições nacionais, o Alvinegro acabou caindo diante do “carrasco” chamado Stein, primeiro nas quartas de final da Taça Brasil e depois na Semifinal da Copa do Brasil.
A equipe terminou a disputa com um honroso terceiro lugar, depois de bater as paranaenses por 3 a 1 no Ginásio Guanadizão em uma partida que também celebrava o aniversário dos 84 anos do Operário Futebol Clube. Superar um dos maiores clubes da modalidade atualmente foi um feito histórico para o DEC/Operário que teve uma caminhada repleta de percalços para alcançar um lugar no pódio e mesmo assim, chegou a sonhar com uma vaga na decisão, só não contava com a perda de uma peça-chave no grupo ainda nos primeiros minutos de bola rolando na partida de volta, em Cascavel-PR.
“A gente merecia alguma coisa boa, foi um ano muito sofrido. O último treinamento do DEC/Operário foi em abril de 2022, de lá para cá a gente nunca mais treinou. A gente jogou a Copa do Brasil e as competições de 2023 todas sem treinar. Nós passamos por perrengues, classificamos contra o time do Mato Grosso (FSD), depois tiramos a SERC/UCDB nas quartas, ganhamos o primeiro (jogo), perdemos o segundo e ganhamos nos pênaltis. Fizemos um evento homenageando ex-jogadores, inclusive o pai da Vanessa (Paixão), o Valdir do gol do Fantástico foi homenageado. Foi um jogo aberto, a gente saiu perdendo, empatamos, viramos e eles colocaram o goleiro-linha e nós fizemos o terceiro gol. Vai ser muito difícil um time de Mato Grosso do Sul repetir esse feito que o DEC/Operário fez, e nas condições que a gente fez, é impossível. A gente teria possibilidade (de classificação), só que infelizmente, a nossa outra goleira não pode ir porque estava trabalhando e a Jhow teve aquela lesão grave que na minha avaliação, acabou emocionalmente o nosso time. Imagina você jogar lá em Cascavel, com o ginásio lotado, você pegar um time daquele, sem goleira? (risos), já tinha acontecido uma vez (jogar sem uma goleira), mas não era o Stein”, afirma Edgar.
Em campo, o Operário foi eliminado ainda na primeira fase do Campeonato Brasileiro da Série A-3 após ser derrotado nos dois embates contra o Legião-DF (2 a 0 em MS e 4 a 0 no DF). Repetindo os feitos do ano anterior, a agremiação se tornou Bicampeã Estadual no campo e na quadra.
O futuro do DEC/Operário
Na temporada 2023, o DEC/Operário não conseguiu repetir o mesmo desempenho dos anos anteriores na categoria adulta, apesar de ter chegado nas finais dos Jogos Abertos de MS e do Campeonato Estadual. Por outro lado, pensando a longo prazo, Edgar reuniu as jogadoras Mirella e Carol juntantamente com o técnico Luis Gustavo na elaboração de um projeto voltado para as categorias de base e com esse intuito, foi criada a Escolinha de Futsal do DEC/Operário. Com uma ideia um pouco diferente da proposta inicial, mas que se demostrou ser muito promissor, rendendo ao clube novos títulos na categoria de base feminina. As operarianas conquistaram a Liga MS de Futsal Sub-20 e nos campeonatos estaduais sub-17 e 20.
Nos gramados, o Operário conquistou a primeira vitória no Brasileirão da A3 contra o Toledo por 2 a 1 no Estádio das Moreninhas. No segundo confronto, as meninas do Galo lutaram, mas não impediram a derrota por 2 a 0 sendo consequentemente eliminadas novamente na fase inicial. Em meio as dificuldades logísticas e financeiras e alegando falta de apoio da atual diretoria, Edgar Nazareth confirmou sua saída do Operário Futebol Clube. O anuncio já havia sido cogitado pelo ex-diretor, após a final do Campeonato Sul-Mato-Grossense de Futebol Feminino de 2023 que culminou com o Tricampeonato para o Galo da Capital.
Sem o “comandante” que tocou o futebol/futsal feminino nos últimos anos, o futuro do DEC/Operário ainda é incerto, mas a parceria construída em 2022 tende a acabar. O principal motivo seria um “desconforto” das jogadoras em usar o nome do Operário, por não receber nenhum suporte financeiro da administração, como havia sido feito pelo diretor com relação ao futebol de campo. O Presidente do Operário Futebol Clube, Nelson Antônio da Silva respondeu dizendo que a instituição não tem dinheiro para arcar com os custos do futebol/futsal feminino e que o foco da diretoria está no futebol profissional.
“Nós trabalhamos ali quase dois anos e meio no futsal feminino do DEC/Operário e no futebol feminino do Operário e eu participei ativamente. Campeão no masculino, três títulos no feminino, dois títulos estaduais, um título da Liga Estadual de Futsal Sub-20, um título Estadual de Futsal Sub-20, um título Estadual de Futsal Sub-17, um título sub-15 masculino base e dois títulos dos Jogos Abertos de Campo Grande. A gente foi três vezes semifinalista de competições nacionais, uma vez terceiro lugar. Eu me senti desvalorizado, acho que o poder público apoia muito mais a concorrência, por uma série de motivos e lutei contra leões e o Operário não lutou junto comigo. Eu não tenho mágoa de ninguém, o que tinha que fazer eu fiz, só que eu sou estou cansado e por que eu vou deixar o Operário? Porque eu só volto a trabalhar no futebol, profissionalmente. Se alguém achar que o que eu fiz, tem valor também”, afirma Edgar.
O empresário fez questão de agradecer a todos os colaboradores que estiveram ao seu lado durante a sua trajetória e acredita que deveria haver um empenho coletivo para unir esforços e manter vivo o DEC/Operário.
“Tudo que eu conquistei eu devo aos meninos do masculino, as meninas do feminino, a comissões técnicas e aos pais do sub-13, sub-15. Eu já falei que mesmo eu fora, elas (atletas) deviam tentar continuar o projeto do DEC/Operário no futsal. Acho que o Operário tinha que fazer alguma coisa para isso, o DEC devia fazer alguma coisa, os grandes empresários e a própria UCDB, tinha que apoiar para não acabar o DEC/Operário. O poder público teria que apoiar, por que olha a repercussão que teve o futsal feminino e o que aconteceu de diferente? O DEC/Operário. Quando a gente começa a brigar e ter desconforto com gente do bem, aí é hora de parar” finaliza Edgar.