Nesta quinta-feira (20) às 04h (horário de Brasília) será dado o pontapé inicial da Copa do Mundo da FIFA de Futebol Feminino 2023. A 9ª edição do Mundial Feminino sediado na Austrália e na Nova Zelândia, será o último com a presença da craque brasileira Marta, eleita 6 vezes a melhor jogadora do mundo. O Brasil que passa por um momento de transição, começa a trajetória em busca do sonho da primeira taça da competição na próxima segunda-feira (20) às 08h (horário de Brasília) contra o Panamá no Hindmarsh Stadium, em Adelaide na Austrália.
No Dia Nacional do Futebol celebrado nessa quarta-feira (19) vamos abordar um quadro geral do futebol feminino brasileiro. Os erros cometidos no passado que refletem na situação atual, além da demonstração do que deve ser feito para o futuro pensando no avanço na categoria feminina do país.
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Situação do Futebol Feminino no Brasil
Nos últimos anos o futebol feminino vem ganhando cada vez mais visibilidade nas plataformas digitais e nas grandes mídias, o que vem atraindo a atenção de novos torcedores que passaram a acompanhar mais de perto, a prática da modalidade praticada pelas mulheres. A camisa “amarelinha” da Seleção Brasileira, embora ainda seja prestigiada e reconhecida em todo o mundo pelas conquistas no futebol masculino, principalmente no passado, ainda tenta correr atrás da primeira taça no Mundial Feminino.
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Para tentar alcançar o objetivo de levantar o cobiçado troféu de campeão do mundo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) iniciou pela primeira vez de maneira mais incisiva, um planejamento para um novo ciclo da Seleção no futebol feminino. O primeiro passo foi de certa forma, uma espécie de “revolução” da categoria com a chegada de uma treinadora estrangeira para o comando da Seleção Brasileira, algo inédito na história da modalidade (feito que por enquanto se restringe ao feminino). Logo após a “queda” nas oitavas de final da Copa diante das anfitriãs França em 2019, a sueca eleita a melhor treinadora do mundo, após Bicampeonato Olímpico com a Seleção dos Estados Unidos, Pia Sundhage assumiu o posto para comandar o time durante os próximos 4 anos.
Aquele ano de 2019, bem antes da chegada da pandemia de covid-19 se espalhar pelo mundo, também se tornaria significativo para o futebol feminino em 2 aspectos.
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O primeiro foi a chegada da principal emissora do país, a Rede Globo, ter transmitido pela primeira vez, o Campeonato Mundial Feminino entre seleções, em sinal aberto para todo o Brasil.
Já o segundo aspecto foi o Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, exigindo que todos os clubes que estivesse disputando a Série A do Campeonato Brasileiro, teriam como obrigatoriedade ter um time feminino para a disputar o campeonato nacional da categoria. Em fevereiro de 2023, o mandatário da CBF, também anunciou novas alterações com relação a esta mesma exigência. A principal mudança é que está regra será expandida para os participantes das quatro divisões do Campeonato Brasileiro Futebol Masculino no prazo estipulado para o ano de 2027. Segundo a entidade, essa iniciativa tem como ideia, valorizar, fomentar e permitir o crescimento do futebol feminino em todos os cantos do país.
Futebol Feminino no MS
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Se o futebol masculino sul-mato-grossense “parou no tempo” e hoje ocupa a penúltima colocação entre as federações no ranking da CBF, o futebol feminino “alimenta” uma esperança de dias melhores. Enquanto os times de futebol masculino profissional de MS “penam” para tentar conseguir um “sonho distante” de chegar à Série C do Brasileiro, a categoria feminina, apesar de ainda estar “engatinhando”, vem evoluindo gradativamente na perspectiva de tentar mudar esse cenário. A prova disso é o maior campeão do Campeonato Sul-Mato-Grossense de Futebol Masculino, o Operário Futebol Clube.
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Até a temporada 2021, o Galo nunca havia vencido o torneio na categoria feminina, mas isso mudou após o diretor Edgar Nazareth passar a estar à frente do time. O diretor passou a firmar parcerias, primeiramente com jogadoras de dentro do MS e depois com clubes de estados vizinhos. Em 2022 a agremiação precisou reformular o grupo após o desmanche do elenco no segundo semestre. Para chegar com força no Campeonato Sul-Mato-Grossense o Alvinegro precisou “ir ao mercado” e trouxe atletas que se destacaram levantando a taça de campeãs do Campeonato Mato-Grossense pelo Mixto. As meninas mesmo com pouco tempo de adaptação, se entrosaram rapidamente com as demais jogadoras e o Operário usando a fórmula de mesclar experiência e juventude, se sagrou Bicampeão Estadual com uma campanha invicta.
Parte das atletas que vestiram a camisa operariana no ano passado conseguiram o acesso com o Mixto para a Série A2 do Campeonato Brasileiro em 2023. Mas de não medir esforços em prol do crescimento do time feminino, Edgar sabe que o Operário precisa de apoio com relação a continuidade do trabalho pois quando se fala em desempenho a nível nacional, o clube ainda tem muito a evoluir. Apesar de ter vencido pela primeira vez em sua história uma partida válida pelo Campeonato Brasileiro da Série A3 sobre o Toledo por 2 a 1 em casa, o Galo acabou eliminado, por 2 anos consecutivos, ainda na Primeira Fase da competição em que representou Mato Grosso do Sul.
Há evidências de que a falta estrutura e investimento são os maiores problemas dentro dos clubes e talvez seja o que mais gere a maior insegurança com relação a sequência do trabalho na categoria. Uma das soluções a curto prazo, seria fazer novos intercâmbios com jogadoras que tem potencial no esporte como já foi citado, mas para isso é preciso tratar a modalidade com o devido “respeito” a ponto de custear as atletas com contratos profissionais, situação que ainda não acontece com nenhuma agremiação de futebol feminino que atuam nos campos de MS. Outro ponto importante é migrar jogadoras do futsal para o futebol de campo, situação que já ocorre nas duas principais equipes do estado, SERC/UCDB e DEC/Operário e que vem surtindo efeito em competições estaduais, mas a solução “caseira” não vem se mostrando tão eficaz a ponto de lutar por “coisas maiores”. Com a dificuldade financeira evidente que os clubes vêm passando, tendo a necessidade de custear tudo que envolve as competições e em meio a dificuldade de encontrar apoiadores dispostos a injetar dinheiro na categoria feminina, o futebol feminino de MS ainda tenta colher os “louros” de sua “produção local”.
As batalhas das mulheres dentro e fora de campo
Na atualidade é quase impensável imaginar que um dia a nação que mais tarde ficaria conhecida por ser “o país do futebol”, proibiria as mulheres de praticar não somente o futebol como esportes de um modo geral. Mas essa triste página do futebol feminino brasileiro foi um fato consumado após virar um decreto de lei no período do governo de Getúlio Vargas, entre 1941 e 1979. Porém a luta das mulheres que estavam sendo impedidas de jogar bola por serem vítimas do preconceito instaurado na sociedade, iria muito além das atletas que não podiam entrar em campo. Afinal para regulamentar o funcionamento de qualquer atividade, uma peça chave é o árbitro e a proibição imposta pela lei, tinha uma lacuna e não incluía a proibição de não deixar as mulheres apitar as partidas. Pensando nisso e de certo modo até mesmo como uma forma de se rebelar “contra o sistema”, a brasileira Asaléa de Campos Fornero Medina, conhecida como Léa Campos, se tornou a primeira árbitra mulher do mundo em 1967.
A cidadã brasileira precisou lutar muito para superar as dificuldades impostas para que ela não atingisse o seu objetivo, e só conseguiu o seu diploma de árbitra após conversar com o então Presidente e General do Exército, Emílio Garrastazu Médici. O primeiro jogo oficial em que ela apitou foi a partida entre Itália e México, no II Mundial de Futebol Feminino.
A semente de Luciano do Valle
Mesmo após quase 10 anos do falecimento do principal comunicador do Grupo Bandeirantes, Luciano do Valle, ter ocorrido, o Brasil ainda luta para dar visibilidade as mulheres dentro dos gramados. Luciano do Valle foi um dos maiores narradores da história da televisão brasileira e é visto por muitos como um visionário do esporte em geral, sendo muito lembrado por seu legado e por estar sempre à frente do seu tempo. Com passagens por vários veículos de comunicação, Luciano ficou marcado e conhecido por transformar a Band, no qual trabalhou por 28 anos, no “canal do esporte”.
Na Rede Bandeirantes, o ancora “deu voz” aos atletas de outras modalidades que tinham pouco espaço na TV, fazendo com que a história assinada e escrita por ele se confundisse com a própria trajetória de sucesso da emissora na qual dedicou mais de duas décadas de trabalho. Seu papel foi fundamental para o desenvolvimento e visibilidade do esporte brasileiro, fazendo com que o locutor ganhasse apelidos como “Luciano do Vôlei” ou mesmo tivesse seu nome acompanhado da frase de “melhor gol da TV” dita muitas vezes pelo jornalista Milton Neves.
Pioneiro em transmitir variados esportes no âmbito da televisão, Luciano do Valle foi um dos primeiros a apoiar a incrementação do futebol feminino nos gramados brasileiros, tendo um olhar diferenciado dos demais sobre a categoria. Pouca gente se lembra, mas foi ele quem apelidou Marta como a nossa “rainha”. Seu talento e genialidade chamaram tanto a atenção de Luciano, a ponto de o próprio narrador falar em um de seus lances emblemáticos a sublime frase: “não há palavras para descrever o gol de Marta”, na histórica goleada do Brasil por 4 a 0 sobre os Estados Unidos na semifinal da Copa de 2007 na China. Sem Luciano do Valle dando o devido espaço em TV aberta para o futebol feminino, dificilmente a categoria conseguiria quebrar as barreiras do preconceito e crescer a ponto de termos estádios lotados e a visibilidade cada vez mais evidente ano após ano.
Os frutos que podem começar a ser colhidos com o investimento
O próximo ciclo da Seleção Brasileira após Copa de 2023 pode dar fôlego a projetos que de fato pensem o futebol feminino a longo prazo. Como já foi citado, o Campeonato Brasileiro que já possuí 3 divisões no feminino tem uma tendencia para ser expandido com a tal regra de impor um time feminino para times que jogam o Brasileiro Masculino. Pensando na visibilidade de grandes eventos da modalidade, em maio desse ano, o Governo Federal assinou o documento para se candidatar a ser país-sede da Copa do Mundo de 2027. No mesmo mês, a atual Ministra de Esportes, Ana Moser, declarou em entrevista ao Programa Voz do Brasil que o desenvolvimento do futebol feminino será prioridade no atual governo. A Ministra e outros membros do governo estarão acompanhando de perto o Mundial na Austrália e na Nova Zelândia com o intuito de trazer o torneio para o Brasil. Caso seja concluída a missão idealizada pela ministra e seus apoiadores, seria a primeira vez que a Copa do Mundo Feminina aconteceria em solo Sul-americano desde a sua criação em 1991.
“O foco do investimento em futebol do governo federal é o futebol feminino. Essa estruturação está sendo organizada com o objetivo de os clubes terem campeonatos o ano inteiro, com estrutura de formação, iniciação no esporte com metodologia própria, estádios mais amigáveis para as mulheres. A Copa do Mundo seria a coroação [desse projeto]”, afirmou Moser.
Em março, o governo lançou a Estratégia Nacional para o desenvolvimento do futebol feminino no país. O programa, sob responsabilidade do Ministério do Esporte, prevê medidas de promoção do desenvolvimento do futebol profissional e amador no país, ampliação dos investimentos e formação técnica para meninas e mulheres no mercado da bola.
Entre as ações, o programa pretende fomentar a participação das mulheres em posições de gestão, na arbitragem e na direção técnica de equipes, além da instalação de centros de treinamento específico para as mulheres, com metodologias próprias e diretrizes pedagógicas adaptadas às necessidades femininas. O decreto determina que, até outubro, seja publicado um diagnóstico da situação atual do futebol feminino no país e um plano de ações até 2025 para a implantação da estratégia.
Fontes: Portal Rede Bahia e Portal Agência Brasil.