A final da Liga Terrão 2023 entre WR Hortifruti/Casarão Nova Lima e Vó Maria disputada na Arena Serra Azul em Campo Grande, ficou marcada por feitos inéditos dentro e fora do campo. Com gols de Agnaldo e Joãozinho, o Vó Maria venceu por 2 a 0 e se consagrou como primeiro bicampeão do certame. O futebol raiz também abriu espaço para a participação das mulheres dentro das quatro linhas. Contamos recentemente, como Danielle Mugarte se tornou comentarista a convite dos organizadores da disputa a União Esportiva de Futebol Amador de Mato Grosso do Sul (UEFAMS). Nessa reportagem, vamos falar e relembrar feitos da jornalista Isabelly Melo que abrilhantou a decisão com a sua emoção e foi outra grande protagonista do evento. A jovem se tornou a primeira mulher da história a narrar as partidas da liga com transmissão ao vivo na TV aberta.
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As origens e o feeling jornalístico
Nascida em Campo Grande, Isabelly Melo logo cede despertou o amor pelo futsal e a paixão pelo esporte em geral. “O esporte em si, sempre foi uma grande paixão para mim. Eu sou filha mulher única, então, eu estava sempre em volta dos meus irmãos e na minha família, nunca teve esse lance de futebol é para menino e não para menina, mas, eu percebia isso em outras famílias. Eu sempre quis estar em volta do esporte, principalmente pelo futsal em si, de jogar na rua, jogar na escola, então, isso foi me aproximando muito do esporte”, lembra Isabelly.
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Isa (como é carinhosamente chamada pelos colegas) tem 26 anos e é jornalista formada na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). No fim de seu período acadêmico, realizou um podcast que explorava assuntos como a posição da mulher dentro do esporte. “A grande referência que eu conheci dentro da faculdade foi a Eva (Regina), teve a Lívia e a Juju que eu conheci no meu trabalho de TCC que foi um podcast e elas falavam muito sobre o esporte. Porque antes, era muito assim, a mulher entrava com o tom mais amoroso, carinhoso e engraçado do programa e não era vesta por ter conhecimento”, lembra Isa.
O início de sua carreira jornalística foi na Rádio CBN de Campo Grande, primeiramente como estagiária em 2017 e depois sendo efetivada em 2019, onde permaneceu até janeiro desse ano. “Saltei para o estágio na rádio, quando surgiu uma oportunidade com uma professora que chegou e falou, ‘tem um estágio numa rádio você não quer ir?’ Eu fui né? Estava precisando do estágio. Cheguei fiz o teste e no outro dia falaram para eu voltar e lá em permaneci, isso foi em 2017 para 2018 e sai no começo desse ano. Tudo que eu aprendi no meu período de formação foi com a rádio. Que apesar do nome, eu fazia de tudo lá, era TV, jornal impresso, jornal online, então, foi uma escola para mim a CBN” lembra Isa.
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As portas abertas pela narração
Seu empenho e vocação para o jornalismo começou a ser recompensado e a jovem logo se destacou como repórter, ganhando uma enorme bagagem profissional. Na data de 14 de abril de 2021, Isabelly Melo, então com 23 anos, foi convidada de maneira inesperada pela Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS) para narrar o primeiro jogo da final do Campeonato Sul-Mato-Grossense Sub-17 entre Grêmio Santo Antônio (GSA) e Náutico Futebol Clube. Era a primeira vez em solo sul-mato-grossense, que uma mulher narrava um jogo de futebol no estado.
“A narração caiu no meu colo, o Tavares que é o Vice-Presidente da Federação de Futebol (de Mato Grosso do Sul) me mandou uma mensagem, perguntou se eu conhecia alguma mulher que narrava. Eu falei Tavares, não conheço nenhuma, mas se você quiser estou aí. Eu fui achando que era super fácil (risos), vou anotar os nomes, correu, é gol, lateral, eu sei todos os termos, assisto. Deu cinco minutos de transmissão, eu falei, meu Deus do céu eu não sei mais o que falar? E deu aquele desespero, mas foi muito gostoso. Foi uma narração que hoje eu ouço e vejo que não era agradável de ouvir, mas foi o meu começo”, lembra Isa.
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Apesar do pouco tempo de experiência narrando, foi com apoio e insistência da família que Isabelly Melo conseguiu ultrapassar os limites do estado para participar de um reality da ESPN, dedicado única e exclusivamente para as mulheres, chamado Narra quem sabe. “Um primo-tio meu, Jonas, falou assim ´Bela está tendo um programa Narra quem sabe, por que você não se escreve? ´ Eu falei pô, programa nacional, tanta gente boa por aí, e eu que só narrei dois jogos (até então) vou me escrever? capaz. Um dia antes (do fim do período de inscrição) eu estava na casa de uma tia minha, era uma edição diferente do Narra quem sabe, porque eles queriam tudo menos futebol. Então era basquete, moto velocidade ou tênis. Moto velocidade que eu sempre assistia com o meu pai Nei. Vou pegar uma corrida Valentino Rossi, que é o que eu conheço. Peguei a corrida, coloquei ali, narrei e mandei, só para falar que eu tinha mandado, para não ficar de mal com a minha família”, comenta Isa.
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A mulher pioneira na narração de um jogo futebol em Mato Grosso do Sul, nunca teve contato mais próximo de uma voz feminina na narração esportiva. Por conta da falta de um “espelho” e por não gostar do seu timbre de voz, a jornalista jamais imaginava que poderia se tornar uma narradora, muito menos que em pouco tempo, teria a oportunidade de conhecer várias profissionais que juntas, estavam unidas em prol do mesmo objetivo, dar mais visibilidade para as mulheres no esporte.
“Eu nunca tive essa referência explicitamente, a gente está vendo Renata Silveira em pleno 2023 agora, narrando em TV Globo, então é um processo demorado. Natália Lara que eu acho que é uma baita narradora, não tem nada que essa mulher não narre. E eu nunca não me via narradora, porque eu nunca vi uma mulher narrando. A partir do momento que eu vejo, pô tem a Natália Lara, a Isabelly (Morais), a Renata (Silveira), muda o perfil. Você fala não, pera aí, eu posso também. A Vanessa Riche falou uma frase para gente, que eu sempre lembro muito, que é: Senta que a cadeira é sua. Toma posse daquilo que você conquistou e acredita que ele é seu, tá lá para você ocupar. E quando eu entendi isso, as coisas ficaram menos terríveis na minha cabeça” lembra Isa.
Isabelly Melo mostrou todo o seu talento e potencial ao vencer o programa Narra quem sabe. A “cadeira” da locução esportiva era de fato sua e a partir dali várias portas se abriram para a jornalista que passou a se destacar nas transmissões ao vivo no YouTube e até mesmo em alguns canais fechados, como o Band Sports e a própria ESPN. As experiências vividas fizeram com que Isa fosse em busca de novos horizontes e assim encerra-se o ciclo com a CBN para trabalhar na Rede Matogrossense de Comunicação (RMC).
“Na faculdade eu odiava rádio, não gostava, por não gostar da minha voz. Me apaixonei por rádio, fui para CBN e lá eu fiquei. Por gostar muito da rádio permaneci lá por muito tempo, só que eu senti que eu precisava respirar novos ares e me desafiar de formas diferentes, aí surgiu o convite do Anderson Viegas que é o diretor responsável pelo setor do G1. Fui para lá e todo mundo sabia do meu gosto por esporte e eu nunca fiz questão de esconder também”, lembra Isa.
Uma nova fase na carreira atrelada a narração
As aparições no G1 MS em 1 minuto, abria um espaço diário para Isa e logo a jornalista trouxe a dinâmica do intervalo da programação da emissora para o Globo Esporte. Estava criado o quadro GE (MS) em 1 minuto. “Conforme as pautas (do G1) iam chegando, se chegava algo sobre o esporte eu conseguia fazer com mais facilidade. Então, nesses dois meses que eu tinha chego lá, me remanejaram para o GE. Eu falei, pô a gente podia manter esse formato (do G1) também no GE. O Igor que é o editor do GE, foi o grande incentivador e falou vamos investir nisso. Agora eu estou no site, subo as notícias online e tem esse GE em 1 minuto, que a ideia é levar a informação do site para dentro do programa de uma forma mais resumida e é uma forma de ligar a web a TV”, afirma Isa.
Desta forma, jornalista atualiza as novidades da semana com um compilado de notícias esportivas para o portal ge.globo/ms. Foi no GE que Isabelly Melo realizou um sonho de infância e viu novamente a narração “roubar a cena” na construção de sua trajetória. “O Átilla (Eugênio) chegou para mim e falou, olha eu quero que você apresente, sinta essa emoçãozinha (riu) e aí ele escolheu um sábado que eu ia apresentar, me deu toda força e foi uma delícia. Apresentar eu gosto bastante, não tenho dificuldade nenhuma para falar e foi muito gostoso ter toda a equipe por trás, é muito bem construído (o programa) e foi uma sensação muito incrível de realizar mais um sonho. E no meio disso, o pessoal sabendo que eu narrava, disse ‘que tal narrar o Terrão?’ Eu falei beleza e foram essas as últimas oportunidades” celebra Isa.
A jornalista admite que a maior dificuldade foi apurar o histórico dos clubes, mas que narrar as partidas da Liga Terrão no Portal Primeira Página e na TV Morena foi muito gratificante, principalmente por ter trabalhado ao lado de Nelson Corrales. “O mais diferente é que o Terrão é muito mais paixão. Tivemos na final, um jogador que lesionou o nariz e ele não ia sair. O pessoal está lá porque ama o time, o bairro. Então é uma atmosfera totalmente diferente. Foi muito bom ter essa parceria com o Nelson que é um almanaque do nosso futebol daqui, principalmente do amador. A gente trabalha muito bem juntos e ficou muito bem encaixadinha a nossa transmissão, porque ele trazia a informação e eu completava com emoção e ficou tudo uma junção muito boa. Foi muito gostoso narrar o Terrão”, destaca Isa.
Com pés no chão, foco e determinação Isabelly Melo é uma jornalista de multifunções que segue deixando “sua marca” por onde passa. Pioneira como narradora de futebol no estado, hoje é referência para as mais novas que desejam trabalhar na área. Isa integra a nova geração do jornalismo esportivo do MS, nascida para quebrar barreiras e mudar os rumos da história, servir de inspiração e principalmente dar voz às mulheres como ela própria disse em suas redes sociais após a primeira narração na carreira.
“Há 80 anos mulheres eram proibidas de jogar futebol no Brasil. Hoje, fiz minha primeira narração de uma partida de futebol. Dia simbólico para as mulheres, para quem ama futebol e agora, ainda mais marcante para mim. Um dia que nunca vou esquecer, talvez alguns trechos fiquem nebulosos, mas a essência desse dia sempre estará comigo. Mulheres, jornalistas, boleiras e quem mais ama isso aqui, tanto quanto, mais ou menos que eu, a gente pode e pode muito!! Seguimos conquistando nosso espaço” conclui Isabelly Melo.