Nesta sexta-feira (25) às 18h (MS) no campo da Moreninha III, localizado em frente a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Joel Rodrigues Rocha, será realizado o clássico Comerário Master em homenagem ao aniversário de 124 anos de Campo Grande. O jogo resgata uma tradição antiga da cidade que já foi palco de vários confrontos memoráveis do maior clássico de Mato Grosso do Sul, incluindo a primeira partida da era profissional válido pela Taça Campo Grande em 1973.
Comerário faz parte da história de Campo Grande
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Os saudosistas do futebol sul-mato-grossense certamente vão se lembrar da época de ouro da dupla Comerário disputando grandes jogos no Estádio Pedro Pedrossian, o popular Morenão, durante os festejos de aniversário de Campo Grande. Mas antes mesmo da era do profissionalismo, o título de referência da cidade já era disputado por um selecionado campo-grandense amador (em que, inevitavelmente, Operário e Comercial sediam a maioria dos atletas, ainda apaixonados, que aproveitavam as folgas de fim de semana de seus empregos para defenderem os clubes do coração) durante os anos 50 e 60.
Na década de 50, por exemplo, eram feitos amistosos contra os superestimados times profissionais do interior de São Paulo, principalmente da região oeste. Pelo antigo Estádio Belmar Fidalgo (hoje praça de esportiva) no centro cidade, passaram e venceram o troféu, clubes como a já extinta Prudentina, o Araçatuba, o Assisense e o Vocem, de Votorantim.
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Com o devido respeito às cidades e aos clubes, alguns deles já falidos ou licenciados de atividades, o tempo foi passando e era preciso algo mais para a Capital Morena que logo foi se provando ter uma enorme ambição para o futebol local. A partir de 1963, o aniversário da cidade passou a ter o tratamento que a data exigia. A seleção campo-grandense encarou os poderosos times do Santos (sem Pelé), Botafogo, Cruzeiro e Fluminense, todos campeões brasileiros naquela época.
No começo dos anos 70, Campo Grande iniciava um projeto audacioso da construção do maior estádio universitário da América do Sul, o Estádio Pedro Pedrossian que seria inaugurado na data de 7 de março de 1971, chamando a atenção da população campo-grandense. Não demoraria muito para o local se tornar um símbolo do município e passasse a ser chamado de Estádio Morenão, em referência ao apelido da cidade.
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Ainda na década de 70 até meados dos anos 80, a rivalidade marcaria o ápice das disputas de um título particular entre os dois rivais, a Taça Campo Grande. Nas arquibancadas as torcidas de ambos os lados faziam uma festa particular para receber os dois times e o grande campeão tinha o orgulho e a honra de levantar o troféu do município. O atual Presidente do Conselho Deliberativo do Operário, Estevão Petrallas, falou como era a movimentação antes da bola rolar em alguns pontos da cidade e no entorno do estádio.
“Eu tinha 16 anos, morava na Avenida Mato Grosso e pegava a Avenida Calógeras. Descia até a esquina do Hotel Gaspar e eu levava uma bandeira e ia a pé até o Estádio Pedro Pedrossian. Naquele tempo, você podia subir na carroceria de uma caminhonete ou de um caminhão e aí me paravam (os torcedores) e diziam, sobe aí guri. E a gente fazia questão de levar aquela bandeira bem hasteada numa taquara e íamos até o Morenão. Do Cemitério Santo Antônio até o estádio era engarrafamento total e o trânsito era bastante complicado em qualquer jogo do Operário” se lembra Estevão.
No dia 20 de janeiro de 1973 o Estádio Morenão foi palco de uma partida histórica entre o Operário Futebol Clube e Esporte Clube Comercial. Segundo registros do jornalista Marcelo Nunes, este foi o primeiro clássico Comerário na era profissional valido pela tradicional Taça Campo Grande que ainda contou com a participação da Sociedade Esportiva Industriaria.
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“Esse jogo foi num sábado à noite, começou às 21h30 e teve 6 mil e 71 pagantes para uma renda de 51 mil e 35 cruzeiros. Esse jogo foi 1 a 0 para o Operário e o gol foi marcado pelo Pinho aos 30 minutos do segundo tempo em um chute de fora da área. O árbitro foi o Mário Vinhas e os assistentes foram o Ladislau de Oliveira e Agnaldo de Barros, o trio do Rio de Janeiro”, relata Marcelo.
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De 1973 em diante, a rivalidade mudava de patamar e ganhava proporções nacionais que transcenderiam por muitos anos, levando grandes públicos (as vezes acima de 40 mil pessoas) ao Estádio Morenão para assistir ao derby que passou a ser uma atração oficial nas comemorações do aniversário de Campo Grande e anos mais tarde se transformaria no maior clássico do estado de MS. Era um momento único na história das duas agremiações que viviam alternando os troféus do Campeonato Estadual, seja ele ainda unificado ao Mato Grosso ou posteriormente com a criação do estado do Mato Grosso do Sul.
O Presidente do Esporte Clube Comercial, Claudio Barbosa, lembra com saudade daqueles clássicos dos anos dourados do futebol do estado. “O futebol sul-mato-grossense tem muitas lembranças boas, Morenão lotado, aquele clássico Comerário que colocava 30 ou 35 mil pessoas em todo jogo. Grandes atletas passaram pelos dois clubes, alguns até chegaram na Seleção Brasileira, como no caso do Dema que jogou no Comercial. Então a gente sente uma saudade enorme né? Torcemos para que haja um planejamento para que o futebol sul-mato-grossense volte ao tempo de ouro e que logo num curto período de tempo, o nosso futebol renasça e reapareça novamente para o cenário nacional” lembra Claudio.
A Taça Campo Grande foi uma disputa consolidada no calendário das equipes até 1980, quando o Operário, depois da glória de chegar à semifinal do Brasileiro de 1977, passou a privilegiar o cenário nacional em detrimento da disputa municipal. Brigas entre a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul e a prefeitura por conta de verbas e datas também acabaram minguando a disputa, até ela ser oficialmente extinta em 1988, em cenário de domínio dos clubes do interior no Estadual e a dupla campo-grandense já fora do principal cenário futebolístico brasileiro.
Nos anos 90 com o Morenão já limitado a baixos públicos, Campo Grande precisou se contentar em ver os jogadores veteranos da dupla Comerário fazerem a festa de aniversário em seu principal estádio. “Era uma forma de agradecermos o povo e de certa maneira manter o Morenão vivo nos festejos da cidade. Ele é o símbolo máximo de Campo Grande. Todos os caminhos levavam a ele”, disse o ex-ponta Copeu, que jogou nos dois clubes em entrevista ao Jornal Correio do Estado.
Personagens de uma final histórica, se reencontram para “cicatrizar as marcas” deixadas no passado, após mais de 30 anos.
Resgatando a história do maior clássico do estado nos festejos de aniversário da cidade, o clássico Comerário 50+ no campo socyte da Moreninha III vai reunir ex-atletas que brilharam dentro dos gramados sul-mato-grossenses como Beto Avelar, Chaveirinho, Amarildo, Marcílio, Cocada, César, Pastoril entre outros nomes. Os organizadores do encontro prometem realizar homenagens aos grandes craques e ídolos do passado contando com a presença de autoridades políticas, esportivas e culturais.
A partida amistosa também vai reservar um momento especial de fair play entre os ex-jogadores Bugre (do Comercial) e Paulo Marcos (do Operário) que proporcionaram uma das maiores confusões da história do clássico na final do Campeonato Sul-Mato-Grossense de 1981. O ex-centroavante Bugre falou sobre a oportunidade de reencontrar os amigos em um momento tão especial e lembrou daquele momento que marcou em sua carreira.
“É uma honra participar dessa festa de 124 anos de Campo Grande que nós amamos. Lembrar dessa história que existiu mesmo e já falamos sobre esse episódio que provocou comentários de operarianos e de comercialinos e o futebol ele é assim, meche com a paixão realmente. Se não existisse o Paulo Marcos talvez a passagem do Bugre fosse mais apagada, se não existisse o Bugre a passagem do Paulo Marcos também. Então nós mesmo sendo rivais lá dentro de campo, fizemos bem um para o outro, pois escrevemos uma página de uma história verdadeira. O Operário tinha um baita de um time, o Comercial tinha um time valente e forte”, lembra Bugre em participação no Programa Giro do Esporte.
O clássico Comerário da final do estadual de 1981, citado por Bugre, deixou “marcas estruturais” para o ex-zagueiro Paulo Marcos, tanto do lado positivo como no negativo e o pós-jogo se transformou em uma “lenda” na cidade. “O clássico da final de 81 foi o clássico do problema. O comercial montou um time muito forte e tinha ganhou o segundo turno se não me engano e nós tínhamos ganhado o primeiro e fomos jogar esses jogos confrontantes da final. No jogo, o Bugre (do Comercial) começou falando algumas coisas em determinada hora do jogo e eu fui subir para rebater uma bola de cabeça, aí ele me deu uma cotovelada, que abriu o meu nariz. No final do jogo em um escanteio, estava 1 a 0 para nós, o empate seria deles, ele me deu uma cotovelada e eu tirei o rosto. A marcação (pedida pelo técnico) foi designada pra eu marcar ele nos escanteios deles. Era um jogador perigoso na bola aérea, aí ele me deu um soco nas costas, o goleiro nosso pegou a bola e o juiz acabou o jogo. Eu saí atrás dele e deu uma confusão, fomos campeões e eu voltei de férias uma semana depois (do título) e queimaram a minha casa”, se recorda Paulo.
Apesar dos “momentos de tensão” e dos acontecimentos extracampo, Paulo Marcos diz que o que aconteceu ficou no passado e é página virada em sua vida, mas admite que encontrar o antigo adversário era algo em que buscava havia tempo.
“Eu agradeço a Deus de ter essa oportunidade de estar aqui na presença dele (Bugre) que era uma coisa para se concertar na minha vida e poder vê-lo. Eu tinha de achar esse ‘maluco’ aqui uma hora, para dar um abraço e dizer que aquilo foi coisa do passado. Mas felizmente, nunca mais vai ter um Comerário daquele. Foi uma decisão de campeonato de 81 e eu estava internado uns 15 dias e por emergência da condição da época, o Castilho pediu que eu jogasse, porque ele (Bugre) tinha arrebentado com o time do Operário no jogo anterior e eu não tinha jogado. Que Deus nos perdoe dos nossos erros lá atrás”, revelou Paulo em participação no Programa Giro do Esporte.
Com informações históricas de: Rafael Ribeiro/Jornal Correio do Estado.