No mês de janeiro, o Presidente do Operário Futebol Clube, Nelson Antônio da Silva, completou um ano a frente da administração da agremiação. Eleito em chapa única como candidato da situação durante as eleições de 21 de agosto de 2022, o mandatário só assumiu o posto em janeiro de 2023. Sua atual gestão é marcada pela classificação histórica para segunda fase da Copa do Brasil, o vice-campeonato Sul-Mato-Grossense ambos no ano passado e a quitação de dívidas trabalhistas. O planejamento para 2024 é repetir o feito na Copa do Brasil e reconquistar a hegemonia estadual para voltar ao Campeonato Brasileiro da Série D em 2025.
Operariano da Era de Ouro
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Nelson Antônio da Silva, nasceu em Campo Grande e atualmente é Presidente do Operário Futebol Clube. Nos últimos anos, Coronel Nelson, como é conhecido pela profissão de Coronel da Polícia Militar, esteve ao lado do atual Presidente do Conselheiro Deliberativo, Estevão Petrallás, sendo Vice-Presidente nas duas últimas gestões que reergueram o clube entre os anos de 2014 a 2018 e de 2018 a 2022. Muito antes de ter a pretensão de se tornar Presidente do maior campeão de Mato Grosso do Sul, Nelson Antônio sempre se considerou um legítimo torcedor operariano desde a infância. E ainda muito cedo, começou a frequentar o estádio influenciado por parte da família.
“Eu me recordo que desde os 11 anos de idade, eu ia sozinho para o estádio. Meu pai e meu irmão eram comercialianos, mas eu, minha mãe e minha irmãs, todos operarianos. Eu morava na rua Tenente Antônio de Figueiredo, no bairro Amambaí e a gente ia sozinho, atravessava o córrego segredo para ir até o Morenão, andando sozinho ou com outros vizinhos, a gente ia pra lá, e nunca perdia um jogo do Operário”, lembra Nelson.
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Confira o Papo Sem Retranca com o Presidente do Operário, Nelson Antônio:
Na época, o Operário disputava o Campeonato Brasileiro representando o estado de Mato Grosso que ainda estava unificado e jogava de igual para igual contra qualquer time do Brasil. Por morar próximo à antiga sede do clube, Nelson gostava de acompanhar os grandes ídolos e viu de perto vários jogos inesquecíveis.
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“Essa paixão foi crescendo, a gente conviveu junto da sede do Operário no período em que eu era adolescente. Eu ia nos treinos do clube e me lembro muito do Manga, na época que eles treinavam onde hoje é o Primeiro Comando Militar do Oeste. Então onde o Operário estava, eu procurava estar junto, e quando estava jogava fora de Campo Grande a gente estava no radinho, eu e minha mãe. Dois jogos foram marcantes na minha vida e eu nunca vou esquecer. Eu estava no estádio quando o Operário ganhou do São Paulo de 1 a 0 nas semifinais do campeonato de 77 e quando o Operário ganhou aqui do Cruzeiro (5 a 1 no Brasileiro de 1981) e depois ganhou lá (no Mineirão de 3 a 1), o Operário era um grande time, tinha um potencial enorme e isso faz parte da minha história, sempre fui operariano roxo e sempre estive na arquibancada” lembra Nelson.
Ostracismo, dívidas e quedas
Os anos dourados vividos pelos esquadrões operarianos das décadas de 70 e 80 deram lugar ao abandono e esquecimento de um clube que passaria por uma crise financeira que parecia não ter fim, no começou dos anos 2000. Em 2005, Operário Futebol Clube perde sua sede social, localizada na Avenida Bandeirantes liquidada no valor de R$16,5 mil reais para o pagamento de dívidas. Em 2009, o Operário foi rebaixado para série B do Campeonato Sul-Mato-Grossense, no ano seguinte, por desistência do Costa Rica, voltou a Série A. Mas, em 2011, voltou a cair de divisão e acabou suspenso por dois anos pela Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS) por ter acionado o Ministério Público Estadual para denunciar supostas irregularidades dos adversários.
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Em 2012, além de não poder entrar em campo, por conta da punição, o Operário ainda perdeu seu último bem, a sede poliesportiva da Vila Popular, leiloada no valor de 720 mil reais, tendo totalizado naquele ano, uma dívida estimada em 5 milhões de reais. Como não bastasse as más administrações, em meio ao “furacão”, ainda houve a criação do Novoperário. O verdadeiro e legítimo Operário, no entanto, parecia estar fadado a “fechar as portas” e Coronel Nelson lembra com tristeza daqueles anos de amargura e apreensão, em um período em que ele próprio, tinha poucas esperanças no retorno da entidade ao futebol.
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“Teve um período que a gente se afastou do clube até como torcedor porque não acreditava mais naquela administração que estava e que levou o time a uma situação bem difícil. Gerir um clube de futebol sem apoio é quase impossível. Mas quando a gente não tem mais condições de fazer alguma coisa, tem que tocar isso para frente, não pode morrer junto com a situação. E numa situação em que o Operário se encontrava, tem que saber o momento certo de passar o bastão para que outras pessoas venham e possam fazer um trabalho de repente, diferente daquilo que vinha sendo feito”, ressalta Nelson.
O Operário sobrevive
Em agoste de 2014, Estevão Petrallás foi eleito Presidente do Operário, tendo como principal missão subir o Alvinegro a série A. Para diminuir o “rombo” deixado pelas outras administrações, Estevão fecha um acordo com a Timemania e o Operário passa a ser o único time de Mato Grosso do Sul a concorrer no sorteio, com tudo, todo dinheiro arrecadado em premiação, seria destinado a quitação de dívidas do clube. Com os parcelamentos dos déficits negociados, a agremiação poderia ter acesso à certidão que lhe possibilitaria a oportunidade de buscar novos parceiros e patrocinadores.
Em 2015, Coronel Nelson chega para fazer parte da nova diretoria e no mesmo ano, embalado pela torcida operariana, após passar quatro anos vivendo o pesadelo da Série B, o Operário, enfim, estava de volta ao seu lugar, à Primeira Divisão do MS. De volta à elite, o Galo fez campanhas dignas, terminando em terceiro lugar em 2016 e 2017, tendo assim, o direito de disputar uma competição “interestadual”, a Copa Verde. O Operário Futebol Clube começava então, um trabalho de resgate a sua história, dignidade, prestígio e credibilidade. Grandes marcas e empresas passaram a apoiar a causa e o Galo ganhou fôlego e vigor para voltar a cantar, “o campeão voltou”. Foram 21 anos longos anos de esperar para que o maior campeão estadual reconquistasse a taça, que não vinha desde o Bicampeonato de 1996/1997.
“Sempre colaborei muito com Estevão e com o Operário na busca de patrocinadores e apoiadores. Esse foi o meu papel principal, fazer com que o Operário tivesse um suporte financeiro para que pudesse bancar minimamente as despesas durante as competições. Uma coisa que eu não esqueço, foi aquele jogo de 2018, quando a gente conseguiu o título, 1 a 0 para o Operário. O sofrimento foi tão grande que só nós que estávamos na gestão, sabemos o que nós passamos e o que nós fizemos para o clube se sagrar campeão e aquilo foi um divisor de águas”, lembra Nelson.
Desafios e Planos
Após a conquista do Estadual, Estevão Petrállas pretendia entregar a presidência ao seu vice. No entanto, durante a disputa do Campeonato Sul-Mato-Grossense de 2019, houve divergências entre os dirigentes e Nelson resolveu se afastar do cargo, apesar de seguir com vinculo no clube.
“Eu não concordava com o técnico Arilson, uma excelente pessoa, mas tinha alguns problemas de cunho pessoal, que realmente dificultava o trabalho dele dentro do clube. Eu falei para o Estevão, você tem que tomar uma decisão, porque esse cara vai complicar a nossa situação e realmente complicou. Nós não ganhamos o título naquele ano, não conseguimos uma boa campanha na Série D e é quase um retrato do que foi esse ano (de 2023). Foi o meu pedido de afastamento do Operário naquele período, como vice-presidente. Mas eu continuei como conselheiro e continuei colaborando principalmente com aquilo que eu fazia de melhor, que era buscar recursos para o clube”, lembra Nelson.
Com o fim do segundo mandato de Estevão Petrallás, novamente com o título Estadual em 2022, foram realizadas eleições presidenciais no dia do aniversário de 84 anos do clube. Disputando em chapa única, Nelson Antônio da Silva foi eleito o novo Presidente do Operário Futebol Clube. Porém, conforme um combinado com seu antecessor, Nelson decidiu que só assumiria o posto, em janeiro de 2023. Sem poder contar com o recurso do Timemania em sua gestão, após a mudança feita pelo governo Bolsonaro que tirou o Operário da lista de participantes, o Presidente usou com sabedoria o dinheiro arrecadado na Copa do Brasil de 2023.
“Eu sabendo que ia assumir a presidência do Operário, fiz alguns empréstimos com amigos, com pessoas que são colaboradores do Operário e a gente conseguiu pagar a PGFN em receita federal. Na época foram quase 150 mil reais que nós estávamos devendo e isso foi em novembro de 2022. A nossa advogada Dr. Ana Paula fez um trabalho brilhante e nos ajudou muito na composição das dívidas trabalhistas e nós conseguimos pagar todas. Quando nós ganhamos do Operário de Ponta Grossa, choveu de ações trabalhistas em cima do Operário. Todas aquelas ações que estavam pendentes, retornaram e nós conseguimos fazer acordos e quitamos todas as dívidas. O Operário hoje não tem nenhuma dívida trabalhista em aberto, todas foram resolvidas. Nós temos a certidão trabalhista, mas não temos a da PGFN, porque nós deixamos de recolher o dinheiro do PROFUT e da PGFN e isso é um problema. Então, só para esclarecer, o Operário hoje tem sanado as suas dívidas trabalhistas, no entanto, nós temos problemas junto a receita federal e com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional” ressalta Nelson.
Aos 58 anos de idade, Nelson Antônio da Silva inicia seu segundo ano de mandato, com os pés no chão e com foco totalmente direcionado ao futebol profissional. O presidente declarou que embora atualmente ainda haja outros projetos envolvendo as categorias de base, futsal e futebol feminino, o clube não tem condições financeiras para arcar com os custos e que a ideia é investir no futebol profissional para servir de espelho para que as demais modalidades e categorias.
A curto prazo, o objetivo para temporada 2024 é repetir o mesmo resultado conquistado contra o xará do Paraná no último ano para conseguir avançar de fase na Copa do Brasil e retomar a hegemonia estadual para voltar a disputa da Série D em 2025. A longo prazo, o Presidente mudou o estatuto do clube para deixa-lo apto a negociação com empresas que desejam inserir uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) dentro do Operário Futebol Clube e admitiu que não pretende seguir no cargo para um novo mandato.
“Eu como Presidente, pretendo completar a minha gestão nesses quatro anos e com certeza não tenho intensão nenhuma de permanecer. Temos que buscar alguém que realmente possa assumir o Operário, trazer gente diferente para dentro do Operário ou quem sabe ter um investidor, um gestor profissional que venha trazer dinheiro. O Operário está preparado para uma SAF, já está viabilizado, nós estamos buscando alguém que possa vir e assumir. Sozinho do jeito que estamos é impossível, nós chegamos no limite, até mesmo pelas questões financeiras que a gente possuí. Então, temos que levar o Operário para mãos de pessoas que realmente tenha condições de investir no clube, de estruturar o clube e levar o Operário de volta a Série A do Campeonato Brasileiro. Nós estamos totalmente sem estrutura e é uma dificuldade, tocar toda essa engrenagem com poucas pessoas apoiando e colaborando com o clube. Mas vamos conseguir dar uma estrutura adequada para o time, avançar em alguns quesitos, mas nem tudo a gente vai conseguir concretizar”, finaliza Nelson.